Algumas vezes os alunos me
perguntavam se é permitido o uso de metáforas na dissertação argumentativa,
aquela que geralmente é exigida no ENEM. Bom, proibido não é, mas esse é tipo
de coisa não se recomenda. Vou explicar melhor: a metáfora constitui um desvio
semântico, que extrapola os limites da linguagem referencial.
Quem usa metáforas está
expressando estados afetivos e emocionais, como por exemplo: “Você tem o
coração de ouro.” O ouro, aqui não significa metal precioso, mas bondade. Não é
esse o objetivo do texto dissertativo, uma vez que dissertar é expor com
objetividade opiniões sobre determinado aspecto da realidade. É por ela que se mede
o poder de argumentar do aluno, que deve expor com louvor seu ponto de vista.
A metáfora exige imaginação e
domínio linguístico. Funciona tanto por seu conteúdo quanto por sua forma e a
fonte que as renova é o texto poético e não o texto em prosa. Isso não quer
dizer que a dissertação não deva ser expressiva.
Como conceitos existem a partir
do mundo real, mesmo o pensamento abstrato precisa de elementos concretos para
se formular. São bem-vindas as metáforas que concretizam noções abstratas e dão
suporte e vigor ao pensamento. Quando o assunto é “eixo da argumentação”, está
se usando metáfora, e ela não é poética, é funcional. É isso que o aluno deve discernir
a diferença entre poética e funcionalidade. Uma metáfora poética tem seu
sentido conotativo e exige a imaginação para sua significação, já uma metáfora
funcional, também tem seu sentido conotativo, mas é aceito para explicar algo
informativo, por falta de significação mais adequada.
Outro dia, em uma de minhas
aulas, a temática da dissertação foi às incertezas da adolescência, um dos meus
alunos referiu-se à “antessala do medo”, sugerindo ansiedade, ameaça futura.
Nada mais funcional do que a imagem de uma antessala para separar o perigo real
da ideia de temor que ele tem. Metáforas como essa não constitui nenhum
despropósito.
Por
Luciana Reis
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